Olhar Retrospectivo 2019 // Raúl Ruiz e diálogos no exílio

Olhar Retrospectivo 2019 // Raúl Ruiz e diálogos no exílio

“Raúl Ruiz e diálogos no exílio”

A mostra Olhar Retrospectivo da oitava edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de Curitiba apresenta diálogos entre as histórias recentes de dois países de nosso continente. Um lado da retrospectiva oferece oito filmes do grande diretor chileno Raúl Ruiz, a maioria dos quais foram realizados durante o período da ditadura militar do Chile (1973-1990). O período de realização de tais filmes também coincide com o da própria ditadura militar do Brasil (1964-1985), período que será representado pelo outro lado da retrospectiva, onde se exibirá 10 filmes realizados durante o período do governo ditatorial por diretores brasileiros em passagens pelo exílio. Participações especiais de convidados e debates irão complementar as exibições dos filmes e auxiliar o público a refletir sobre os significados desse legado transnacional, dentro do contexto de uma mostra cujo nome se inspira no filme Diálogos dos exilados, o primeiro longa-metragem de Ruiz concluído na França após sua fuga do Chile para a Europa.

“Talvez há um ano uma mostra em torno desse tema pareceria algo que remetesse a um passado mais distante de nossa história”, diz o diretor e diretor de programação de Olhar de Cinema, Antônio Junior. “Contudo, hoje essa mostra reflete um momento em que o exílio, infelizmente, passa a fazer parte do nosso presente. Assim, se a mostra Olhar Retrospectivo surge com a vontade de homenagear o Raúl Ruiz, ao buscar um recorte dentro da obra dele, até por sua enorme magnitude, nos deparamos com um momento que ela estava intimamente ligada com a realidade da América Latina de golpes de estados e ditaduras de 1960-1990, momento em que diversos cineastas se encontravam produzindo fora de seus países, exilados. Com isso, surgiu um anseio de estabelecer um diálogo de Ruiz com uma lista relevante de cineastas brasileiros – Helena Solberg, Glauber Rocha, Cacá Diegues, Ruy Guerra, Silvio Tendler, Júlio Bressane, Lúcia Murat, Murilo Salles, Luiz Alberto Sanz e Pedro Chaskel – em forma de diálogos de exílio.”

Raúl Ernesto Ruiz Pino nasceu em Puerto Montt, Chile, em 1941, e morreu em Paris em 2011. Durante sua breve vida, dirigiu mais de 100 filmes em vários países, com uma ênfase especial em seu país sul-americano de origem – que ele deixou para o exílio em decorrência do golpe de estado de 1973 – e do país europeu onde ele adotou residência. A obra de Ruiz reinventou o cinema ao romper as fronteiras das formas narrativas tradicionais através de uma busca incansável por novas formas de contar histórias, muitas vezes sob a perspectiva de personagens que se consideravam exilados. O Olhar de Cinema vai exibir uma breve seleção da sua filmografia – a maioria dos filmes em cópias digitais restauradas – que se inicia cronologicamente com seu primeiro longa-metragem existente realizado no Chile, e termina com um de seus filmes mais celebrados, uma obra inspirada pela literatura europeia e pelo folclore chileno.

“Assim que decidimos que seria preciosa a oportunidade de pensar no cinema de Ruiz pelo signo do exílio, veio a ideia de colocá-lo lado a lado com tantos cineastas brasileiros que também precisaram realizar uma parte das suas obras longe do país”, diz Eduardo Valente, um dos programadores de longas-metragens no Olhar de Cinema. “Acreditamos que a circunstância histórica similar do período ganha ainda mais peso quando vemos caminhos bem diferentes sendo trilhados. Será uma oportunidade de trazer alguns filmes menos conhecidos de alguns de nossos mais consagrados cineastas, colocando-os lado a lado com outros cuja carreira foi bastante truncada pela luta contra a ditadura militar. É importante notar ainda a presença feminina através dos olhares de Lúcia Murat e Helena Solberg, donas de obras absolutamente coerentes. Pensar o que é filmar no exílio ganha um peso político maior quando saímos da perspectiva apenas autoral e individual de um gênio como Ruiz e colocamos lado a lado com a produção de uma série de cineastas de uma outra nação.”

Os oito filmes a seguir, dirigidos por Raúl Ruiz, foram confirmados para a Retrospectiva. Eles serão exibidos em novas cópias em DCP:

  • Três tristes tigres (Tres tristes tigres, 1968, Chile, 98min, cópia restaurada fornecida pela Cineteca Nacional de Chile)
  • Diálogos de exilados (Diálogos de exiliados/Dialogue d’exilés, 1975, Chile/França, 104min, cópia restaurada fornecida pela Cineteca Nacional de Chile)
  • A vocação suspensa (La vocation suspendue, 1977, França, 95min, cópia restaurada fornecida pela INA)
  • A hipótese do quadro roubado (L’Hypothèse du tableau vole, 1978, França, 64min, cópia restaurada fornecida pela INA)
  • As divisões da natureza (Les divisions de la nature: Quatre regards sur le château de Chambord, 1978, França, 31min, cópia restaurada fornecida pela INA)
  • Dos grandes eventos e pessoas comuns (De grands événements et des gens ordinaires, 1979, França, 61min, cópia restaurada fornecida pela INA)
  • O teto da baleia (Het dak van de walvis, 1982, Holanda, 90min, cópia restaurada fornecida pela Cinémathèque française)
  • As três coroas do marinheiro (Les trois couronnes du matelot, 1983, França, 117min, cópia restaurada fornecida pela INA)

Os 10 filmes a seguir, dirigidos por cineastas brasileiros exilados, também foram confirmados para a Retrospectiva. Os filmes serão exibidos em suas melhores possíveis cópias digitais:

  • Meio-dia (dir. Helena Solberg, 1970, Brasil, 11min, cópia digital fornecida pela Filmes de Quintal)
  • Un séjour (dir. Carlos Diegues, 1970, França, 56min, cópia digital fornecida pela Luz Mágica)
  • O Leão de Sete Cabeças (Der Leone Have Sept Cabeças, dir. Glauber Rocha, 1970, França/Itália/Brasil, 99min, DCP restaurado fornecido pela Copyrights, com agradecimentos ao Cine Humberto Mauro)
  • Não é hora de chorar (No es hora de llorar, dir. Luiz Alberto Sanz e Pedro Chaskel, 1971, Chile, 36min, cópia digital fornecida pela Cineteca Universidad de Chile)
  • Memórias de um estrangulador de loiras (dir. Júlio Bressane, 1971, Inglaterra/Brasil, 71min, cópia remasterizada fornecida pela TB Produções)
  • A dupla jornada (dir. Helena Solberg, 1975, Argentina/Bolívia/México/Venezuela, 54min, cópia digital fornecida pela Filmes de Quintal)
  • Estas são as armas, (dir. Murilo Salles, 1978, Moçambique, 56min, cópia digital fornecida pela Cinema Brasil Digital)
  • Mueda, memória e massacre (dir. Ruy Guerra, 1979, Moçambique, 75min, cópia remasterizada fornecido pela Arsenal – Institüt fur film und videokunst e.V.)
  • O pequeno exército louco (dir. Lúcia Murat e Paulo Adário, 1984, Brasil/Nicarágua, 52min, cópia em alta resolução fornecida pela Taiga Filmes)
  • Fragmentos de exílio (dir. Sivio Tendler, 2003, Brasil, 6min, cópia digital fornecida pela Caliban Produções Cinematográficas)

A oitava edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de Curitiba será realizada de 5 a 13 de junho.

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