Olhar Retrospectivo – fique por dentro da mostra!

Olhar Retrospectivo – fique por dentro da mostra!

Olhar de Cinema apresenta a sua primeira retrospectiva dupla. A seleção inclui 15 filmes realizados entre 1955 e 1999 pelos mestres de cinema mundial Djibril Diop Mambéty (1945-1998) e Jean Rouch (1917-2004). A realização deste evento especial traz à tona uma pergunta: por quê programar estes dois realizadores juntos?

Não existe uma conexão biográfica evidente entre eles – provavelmente nunca trabalharam juntos e suas produções seguiram caminhos distintos. No decorrer de sua breve vida, o cineasta, ator e griot senegalês Mambéty fez apenas sete filmes, dos quais o Olhar exibirá seis nas melhores cópias digitais existentes, o que inclui novas restaurações em DCP de Hienas (1992) e A pequena vendedora de sol (1999). (Esperamos que seja realizada futuramente a restauração digital de seu único filme não incluído aqui, Badou Boy, de 1970.)

Em contraponto, o cineasta e antropólogo francês Rouch criou mais filmes do que foi possível acompanhar. Dessa vasta produção de mais de 100 títulos, Olhar exibirá nove obras – uma seleção de oito filmes recém-restaurados em DCP que estrearam no ano passado em razão do centenário do autor, além de uma projeção em Blu-ray da restauração previamente lançada do fundacional Crônica de um verão (1961), dirigido por ele e Edgar Morin.

Gostaríamos de ressaltar que o Olhar Retrospectivo de 2018 só foi possível graças ao apoio do Les Films de la Pleiade, do Institut Français e de La Cinémathèque Afrique, do Consulado Geral da Suíça em São Paulo, do The Film Foundation, do World Cinema Project, da Cineteca di Bologna, da Prince Film SA, da Waka Films e do filho do diretor Djibril Diop Mambéty: Teemour D. Mambety.

                  

   

 

Djibril Diop Mambéty

A PEQUENA VENDEDORA DE SOL

A protagonista do último filme de Mambéty (finalizado postumamente) é uma garota pobre e paraplégica chamada Sali Laam (interpretada por Lissa Balera) que sobrevive em Dakar às margens do poder. Sua crença sincera e firme em suas próprias capacidades – simbolizada principalmente no trabalho que ela busca de vender exemplares do jornal Soleil – torna a irradiante Sali uma das grandes personagens do cinema atual. Ainda assim, as imagens que a individualizam são costuradas a uma dinâmica coletiva, que se estende a outros habitantes “comuns” do mesmo contexto periférico.

QUANDO E ONDE
8JUN
Cineplex Batel (Sala 5)
19h30
13JUN
Espaço Itaú (Sala 1)
14h15

A VIAGEM DA HIENA

O terceiro filme (e segundo longa-metragem) de Mambéty é um dos mais importantes do século passado. Ele segue a explosiva trilha de rebeldia do casal on the run Mory (interpretado por Magaye Niang) e Anta (Mareme Niang), que sonha em abandonar as dificuldades do Senegal rumo ao paraíso idealizado na França, onipresente na trilha sonora graças à voz de Josephine Baker. Mory, anti-herói polimorfo e outsider, complexifica as contradições da realidade pós-colonial ao corporificar seus opostos: entre tradição e modernidade, o desejo de fugir e o de permanecer lutando. “A viagem da hiena” vai contrapondo mundos distintos em formas radicais e poéticas.

QUANDO E ONDE
9JUN
Espaço Itaú (Sala 2)
18h45
10JUN
Espaço Itaú (Sala 1)
20h45

CONTRAS’CITY

urta-metragem que inaugura a incursão de Mambéty na direção, “Contras’city” inscreve procedimentos de montagem disruptivos e de vanguarda que vão na contramão de uma concepção realista e linear de cinema. Seu tema é a arquitetura da capital senegalesa de Dakar, vista através de planos entrecortados que contrastam estilos arquitetônicos – de um lado os barrocos prédios de governo, de outro, a pobreza das habitações populares. O som não-sincrônico descreve a paisagem, com um diálogo de tom jocoso entre uma francesa e um homem (a quem o próprio Mambéty, ator por formação, empresta a voz).

QUANDO E ONDE
7JUN
Cineplex Batel (Sala 4)
16h45
11JUN
Cineplex Batel (Sala 4)
16h30

HIENAS

O último longa-metragem de Mambéty é inspirado na peça A visita da velha senhora (1956), do suíço Friedrich Dürrenmatt. O cenário é Colobane, vila de origem do cineasta, e palco para personagens iludidos pela promessa de materialismo ocidental, entre eles, a rica e vingativa Linguère Ramatou (Ami Diakhate), que volta do exterior em busca de seu ex-companheiro Draman Drameh (Mansour Diaf). Esta visão alegórica de sociedades africanas pós-coloniais aprofunda signos da obra anterior de Mambéty, como a hiena e sua simbologia traiçoeira. Uma construção visualmente carregada flerta com o fantástico em um conto fabular sobre a ganância e suas perdas humanas.

QUANDO E ONDE
7JUN
Espaço Itaú (Sala 3)
14h30
9JUN
Cineplex Batel (Sala 4)
21h00

LE FRANC

O farsesco “Le Franc” parte do contexto de desvalorização da moeda da África Ocidental em 1994 e a consequente dificuldade que se abateu sobre a população. Ele conta as desventuras de Marigo (interpretado por Dieye Ma Dieye), um jovem e pobre músico urbano que guarda em casa um bilhete de loteria, junto com um cartaz do herói popular senegalês Yaadikoone. A primazia dupla de uma influência musical e um universo onírico sobre a vida do protagonista é tematizada no seu instrumento, a congoma, que ele perde por conta do atraso no aluguel e sobre a qual ele sonha em comprar mil iguais.

QUANDO E ONDE
7JUN
Espaço Itaú (Sala 2)
19h30
12JUN
Espaço Itaú (Sala 2)
21h45

VAMOS CONVERSAR, AVÓ

O primeiro filme concluído por Mambéty nos 16 anos após “A Viagem da Hiena” acompanha o processo de realização do longa-metragem “Yaaba” (1989, “Avó”), considerado uma das obras-primas do cinema africano e dirigido pelo recém-falecido mestre Idrissa Ouedraogo (1954-2018), de Burkina Faso. “Vamos Conversar, Avó” foi concebido sem tradução ou legendas, como uma peça audiovisual imersiva e menor, proporcionando um mergulho no imaginário das crianças rurais que protagonizam “Yaaba”, além de construir uma bela homenagem ao cinema realizado no continente.

QUANDO E ONDE
8JUN
Cineplex Batel (Sala 5)
19h30
13JUN
Espaço Itaú (Sala 1)
14h15

Jean Rouch

A CAÇA AO LEÃO COM ARCO E FLECHA

Captado ao longo de sete missões etnográficas no Níger durante sete anos, o filme acompanha os rituais dos gow, um grupo de caçadores da tribo Songhay. O foco reside mais no processo que antecede a saída dos caçadores, na criação de ferramentas, nos gestos dos animais, do que na singularização de figuras humanas. A estrutura antropológica clássica é complexificada pelo forte arco dramático impresso à narrativa de caça a um leão chamado “o americano”, com a introdução e conclusão de um narrador contando a história para crianças. O filme registra uma comunidade cujas tradições estão em vias de desaparecer, tornando-o uma das peças-chaves da obra de Rouch.

QUANDO E ONDE
8JUN
Espaço Itaú (Sala 3)
14h00
9JUN
Espaço Itaú (Sala 3)
14h15

A PIRÂMIDE HUMANA

“A Pirâmide Humana” cria um instigante experimento (com ares de psicodrama) de análise das relações inter-raciais em uma turma de estudantes brancos e negros, franceses e nativos da Lycée Français em Abidjan, capital da Costa do Marfim. Rouch interpreta a si mesmo, assumindo-se enquanto operador distanciado que reflete sobre as vivências do grupo encenadas com real intensidade. O racismo é tematizado sem rodeios, com a franca tenacidade juvenil a permear os diálogos em voz overrecheados de referências literárias. O filme chega a ensaiar uma esperança de amizade genuína que se concretiza momentaneamente na experiência do cinema.

QUANDO E ONDE
8JUN
Espaço Itaú (Sala 3)
17h45
11JUN
Cineplex Batel (Sala 5)
18h45

A PUNIÇÃO

A jovem estudante de filosofia Nadine Ballot (também de “A Pirâmide Humana” e “Crônica de um Verão”), após ser temporariamente expulsa das aulas, encontra três homens diferentes ao longo de um dia. Eles caminham por locais públicos de Paris, com a improvisação ditando a tônica de suas conversas captadas em cinema direto. É a única obra de Rouch da retrospectiva que conta com uma protagonista mulher fora de uma dinâmica de grupo, compartilhando as inquietudes e devaneios de uma geração. Seus personagens também incluem Landry, um jovem imigrante da Costa do Marfim com quem Nadine passeia dentro do Museu do Homem.

QUANDO E ONDE
7JUN
Cineplex Batel (Sala 4)
16h45
11JUN
Cineplex Batel (Sala 4)
16h30

CRÔNICA DE UM VERÃO

Co-dirigido pelo filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, Crônica de um verão é o filme mais conhecido de Rouch e precursor do que ele chamaria (um tanto ironicamente) “cinema verdade”. “Você é feliz?”, perguntam jovens mulheres a transeuntes nas ruas de Paris em um filme que consolida procedimentos prévios, deslocando o foco dos países africanos para a sociedade francesa. Ao indagar sobre como vivem personagens de classes, gêneros e raças distintos, e incorporar suas subjetividades em registro direto e em monólogos em over, Crônica faz um estudo da condição humana, simultaneamente atemporal e enraizado em seu momento histórico.

QUANDO E ONDE
8JUN
Cineplex Batel (Sala 5)
21h15
13JUN
Cineplex Batel (Sala 5)
16h30

EU, UM NEGRO

“Eu, um negro” foi realizado na Costa do Marfim em parceria com um grupo de imigrantes e trabalhadores do Níger. No meio dos jovens “Eddie Constantine”, “Tarzan”, “Petite Jules” e “Dorothy Lamour”, ele toma como herói “Edward G. Robinson”, uma combinação inseparável da pessoa real habitante de Treichville (pobre, imigrante, ex-combatente na Indochina e que, sob o nome de Oumarou Ganda, se tornaria um cineasta importante) e da persona mítica criada por ela numa confluência de subjetividades, discursos e sonhos. O filme estabelece o método auto-fabulatório subsequentemente utilizado por Rouch enquanto inventa sua própria forma, que parece orgânica.

QUANDO E ONDE
8JUN
Espaço Itaú (Sala 1)
16h00
12JUN
Espaço Itaú (Sala 3)
17h30

JAGUAR

“Jaguar” narra as peripécias migratórias de três amigos – Lam, Illo e Damouré, todos personagens recorrentes no cinema de Rouch – que partem do Níger para a então Costa do Ouro em busca de fortuna e de atingir o status social atraente de “jaguar”. Eles encabeçam duas instâncias de improvisação fabulativa na montagem do filme, com a criação coletiva da cena filmada e a invenção dos diálogos gravados anos depois. Este road movie épico investe tanto na aventura quanto na documentação de tradições das comunidades locais, ao mesmo tempo em que extrai sua força da realidade imaginária resultante do encontro entre protagonistas e realizador.

QUANDO E ONDE
10JUN
Espaço Itaú (Sala 1)
14h15
13JUN
Cineplex Batel (Sala 4)
21h00

MAMMY WATER

Este curta realizado no Golfo de Guiné, em Gana, acompanha uma cerimônia em homenagem à deusa das águas, Mammy Water. O ritual busca o perdão dos espíritos do mar (contrariados após a morte de sua sacerdotisa) a fim de recuperar a fartura de pesca na comunidade. A voz do realizador guia um registro simpático de teor etnográfico ao descrever situações e ressignificar imagens, enquanto a banda sonora é complementada por vozes e cantos sem singularização subjetiva. Ao final, a estrutura da montagem corrobora a retomada da aliança com as divindades ao se encerrar com a pesca bem-sucedida.

QUANDO E ONDE
8JUN
Espaço Itaú (Sala 3)
14h00
9JUN
Espaço Itaú (Sala 3)
14h15

OS MESTRES LOUCOS

“Os Mestres Loucos” se dedica a um ritual de possessão em Accra (capital atual de Gana) com sua cerimônia anual de evocação dos novos deuses – os deuses da técnica e das grandes cidades, os Haouka -, dentre os quais figuram personagens modernos do poder colonial britânico. O enunciado em voz over do realizador descreve os acontecimentos, flutuando entre um pretenso cientificismo descritivo e formulações mais poéticas. Ele conduz a análise dessa ritualização sobre um passado colonial recente, no primeiro trabalho cinematográfico de Rouch a causar maior reverberação de crítica e público.

QUANDO E ONDE
7JUN
Espaço Itaú (Sala 2)
19h30
12JUN
Espaço Itaú (Sala 2)
21h45

POUCO A POUCO

“Pouco a Pouco” é um cômico ensaio de etnologia inversa que inscreve seus protagonistas numa investigação da sociedade francesa através do olhar de estrangeiros, dentre eles Damouré Zika, que viaja para França para estudar arranha-céus por conta de sua empresa de construção baseada no Níger “Pouco a pouco”. Ele e seus parceiros revelam as contradições da lógica capitalista ocidental de maneira satírica ao lançarem perguntas a desconhecidos na rua (com ecos de Crônica de um verão), ou se depararem com figuras marcantes que habitam o estranho novo (velho) mundo – como Safi, interpretada pela senegalesa Safi Faye antes de se tornar cineasta notável.

QUANDO E ONDE
7JUN
Cineplex Batel (Sala 5)
14h15
11JUN
Espaço Itaú (Sala 1)
14h00

 

 

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